Avaliação Psicopedagógica :
É um dos componentes críticos da intervenção psicopedagógico, pois nela se fundamenta as decisões voltadas à prevenção e solução das possíveis dificuldades dos alunos, promovendo melhores condições para o seu desenvolvimento. Ela é um processo compartilhado de coleta e análise de informações relevantes acerca dos vários elementos que intervêm no processo de ensino e aprendizagem, visando identificar as necessidades educativas de determinados alunos ou alunas que apresentem dificuldades em seu desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito ao currículo escolar por causas diversas, e a fundamentar as decisões a respeito da proposta curricular e do tipo de suportes necessários para avançar no desenvolvimento das várias capacidades e para o desenvolvimento da instituição (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2007, p. 279).
A avaliação Psicopedagógica envolve:
A) a identificação dos principais fatores responsáveis pelas dificuldades da criança. Precisamos determinar se tratasse de um distúrbio de aprendizagem ou de uma dificuldade provocada por outros fatores (emocionais, cognitivos, sociais...). Isto requerer que sejam coletados dados referentes à natureza da dificuldade apresentada pela criança, bem como que se investigue a existência de quadros neuropsiquiátricos, condições familiares, ambiente escolar e oportunidades de estimulação oferecidas pelo meio a que a criança pertence;
B) o levantamento do repertório infantil relativo às habilidades acadêmicas e cognitivas relevantes para a dificuldade de aprendizagem apresentada, o que inclui: conhecimento, pelo profissional, do conteúdo acadêmico e da proposta pedagógica, à qual a criança está submetida; investigação de repertórios relevantes para a aprendizagem, como a atenção, hábitos de estudos, solução de problemas, desenvolvimento psicomotor, linguístico, etc.; avaliação de pré-requisitos e/ou condições que facilitem a aprendizagem dos conteúdos; identificação de padrões de raciocínio utilizados pela criança ao abordar situações e tarefas acadêmicas, bem como déficits e preferências nas modalidades percentuais etc.;
C) a identificação de características emocionais da criança, estímulos e esquemas de reforçamento aos quais responde e sua interação com as exigências escolares propriamente ditas.
Ela deve ser um processo dinâmico, pois é nela que são tomadas decisões sobre a necessidade ou não de intervenção psicopedagógico. Ela é a investigação do processo de aprendizagem do indivíduo visando entender a origem da dificuldade e/ou distúrbio apresentado. Inclui entrevista inicial com os pais ou responsáveis pela criança, análise do material escolar, aplicação de diferentes modalidades de atividades e uso de testes para avaliação do desenvolvimento, áreas de competência e dificuldades apresentadas. Durante a avaliação podem ser realizadas atividades matemáticas, provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas, leitura, escrita, desenhos e jogos.
Inicialmente, deve-se perceber na consulta inicial, que a queixa apontada pelos pais como motivo do encaminhamento para avaliação, muitas vezes pode não só descrever o “sintoma”, mas também traz consigo indícios que indicam o caminho para início da investigação. “A versão que os pais transmitem sobre a problemática e principalmente a forma de descrever o sintoma, dão-nos importantes chaves para nos aproximarmos do significado que a dificuldade de aprender tem na família” (FERNÁNDEZ, 1991, p. 144).
Segundo Coll e Martín (2006), avaliar as aprendizagens de um aluno equivale a especificar até que ponto ele desenvolveu determinadas capacidades contempladas nos objetivos gerais da etapa. Para que o aluno possa atribuir sentido às novas apren-dizagens propostas, é necessária a identificação de seus conhecimentos prévios, fi-nalidade a que se orienta a avaliação das competências curriculares.
Dentre os instrumentos de avaliação também podemos destacar: escrita livre e dirigida, visando avaliar a grafia, ortografia e produção textual (forma e conteúdo); leitura (decodificação e compreensão); provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas; cálculos; jogos simbólicos e jogos com regras; desenho e análise do grafismo.
Conforme Coll; Marchesi; Palacios (2007), a avaliação psicopedagógica irá for-necer informações importantes em relação às necessidades dos seus alunos, bem como de seu contexto escolar, familiar e social, e ainda irá justificar se há ou não necessidade de introduzir mudanças na oferta educacional.
Depois de coletadas informações que considera importante para a avaliação, o psicopedagogo irá intervir visando à solução de problemas de aprendizagem em seus devidos espaços, uma vez que a avaliação visa reorganizar a vida escolar e doméstica da criança e, somente neste foco ela deve ser encaminhada, vale dizer que fica vazio o pedido de avaliação apenas para justificar um processo que está descomprometido com o aluno e com a sua aprendizagem. “De fato, se pensarmos em termos bem objetivos, a avaliação nada mais é do que localizar necessidades e se comprometer com sua superação” (VASCONCELOS, 2002, p.83).
Diagnosticar nada mais é do que a constatação de que a criança possui algum tipo de dificuldade na aprendizagem, fato que normalmente só é detectado quando ela é inserida no ensino formal. Porém, uma vez realizada essa constatação, cabe à equipe investigar a sua causa e, para tanto, deve-se lançar mãos de todos os instrumentos diagnósticos necessários para esse fim. O diagnóstico psicopedagógico abre possibilidades de intervenção e dá início a um processo de superação das dificuldades. O foco do diagnóstico é o obstáculo no processo de aprendizagem. É um processo no qual analisa-se a situação do aluno com dificuldade dentro do contexto da escola, da sala de aula, da família; ou seja, é uma exploração problemática do aluno frente à produção acadêmica.
Durante o diagnóstico psicopedagógico, o discurso, a postura, a atitude do paciente e dos envolvidos são pistas importantes que ajudam a chegar às questões a serem desvendadas. É através do desenvolvimento do olhar e da escuta psicopedagógico, trabalhados e incorporados pelo profissional que poderão ser lançadas as primeiras hipóteses acerca do indivíduo. Esse olhar e essa escuta ultrapassam os dados reais relatados e buscam as entrelinhas, a emoção, a elaboração do discurso inconsciente que o atendido traz.
O objetivo do diagnóstico é obter uma compreensão global da sua forma de aprender e dos desvios que estão ocorrendo neste processo que leve a um prognóstico e encaminhamento para o problema de aprendizagem. Procura-se organizar os dados obtidos em relação aos diferentes aspectos envolvidos no processo de aprendizagem de forma particular. Ele envolve interdisciplinaridade em pelo menos três áreas: neurologia, psicopedagogia e psicologia, para possibilitar a eliminação de fatores que não são relevantes e a identificação da causa real do problema.
É nesse momento que o psicopedagogo irá interagir com o cliente (aluno), com a família e a escola, partes envolvidas na dinâmica do processo de ensino-aprendizagem. Também é importante ressaltar que o diagnóstico possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento, por isso ele deve ser feito com muito cuidado, observando o comportamento e mudanças que isto pode acarretar no sujeito.
O diagnóstico psicopedagógico é visto como um momento de transição, um passaporte para a intervenção, devendo seguir alguns princípios, tais como: análise do contexto e leitura do sintoma; explicações das causas que coexistem temporal-mente com o sintoma; obstáculo de ordem de conhecimento, de ordem da interação, da ordem do funcionamento e de ordem estrutural; explicações da origem do sintoma e das causas históricas; análise do distanciamento do fenômeno em relação aos parâmetros considerados aceitáveis, levantamento de hipótese sobre a configuração futura do fenômeno atual e, indicações e encaminhamentos.
O diagnóstico não pode ser considerado como um momento estático, pois é uma avaliação do aluno que envolve tanto os seus níveis atuais de desenvolvimento, quanto as suas capacidades e possibilidades de aprendizagem futura. Por muitos anos, era uma tarefa exclusiva dos especialistas, que analisavam algumas informações dos alunos, obtidas através da família e às vezes da escola, e logo após devolviam um laudo diagnóstico, quase sempre com termos técnicos incompreensíveis. A distância existente no relacionamento entre os especialistas, a família e a escola impediam o desenvolvimento de um trabalho eficiente com o aluno.
RECURSOS A SEREM USADOS NO DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
O Código de Ética da Psicopedagogia, em seu Capítulo I – Dos Princípios – Artigo 1º afirma que o psicopedagogo pode utilizar procedimentos próprios da Psico-pedagogia, procedimentos próprios de sua área de atuação.
Rubinstein (1996) destaca que o psicopedagogo pode usar como recursos a entrevista com a família; investigar o motivo da consulta; conhecer a história de vida da criança, realizando a anamnese; entrevistar o aluno; fazer contato com a escola e outros profissionais que atendam a criança; manter os pais informados do estado da criança e da intervenção que está sendo realizada; realizar encaminhamentos para outros profissionais, quando necessário.
Já Bossa (2000) destaca outros recursos, referindo-se as Provas de Inteligência (WISC); Testes Projetivos; Avaliação perceptomotora (Teste de Bender); Teste de Apercepção Infantil (CAT.); Teste de Apercepção Temática (TAT.); Provas de nível de pensamento (Piaget); Avaliação do nível pedagógico (nível de escolaridade); Desenho da família; Desenho da figura humana; Teste HTP ( casa, árvore e pessoa); Testes psicomotores; Lateralidade; Estruturas rítmicas... A autora não apresenta restrição quanto ao uso dos testes, no entanto, alguns destes testes (Wisc, Teste de Bênder,CAT, TAT, Testes Projetivos), aqui no Brasil, são considerados de uso exclusivo de psicólogos. Para evitar atritos, o psicopedagogo pode ser criativo e desenvolver atividades que possibilitem fazer as mesmas observações que tais testes.
Ele também pode organizar uma equipe multidisciplinar, de maneira a que se faça uma avaliação de todos os aspectos sobre os quais recai nossa hipótese diagnóstica inicial. Ex: teste de inteligência (psicólogos); testes de audição e de linguagem (fonoaudiólogos). Os pedagogos especialistas em psicopedagogia, podem usar testes como o TDE, Metropolitano, ABC, Provas Piagetianas, provas pedagógicas, etc.
O uso de jogos também é sugerido como recurso, considerando que o sujeito através deles pode manifestar, sem mecanismos de defesas, os desejos contidos em seu inconsciente. Além do mais, no enfoque psicopedagógico os jogos representam situações-problemas a serem resolvidos, pois envolvem regras, apresentam desafios e possibilita observar como o sujeito age frente a eles, qual sua estrutura de pensa-mento, como reage diante de dificuldades.
ETAPAS DO DIAGNÓSTICO
O diagnóstico psicopedagógico é composto de várias etapas que se distinguem pelo objetivo da investigação. Desta forma, temos a anamnese só com os pais ou com toda a família para a compreensão das relações familiares e sua relação com o modelo de aprendizagem do sujeito; a avaliação da produção escolar e dos vínculos com os objetivos de aprendizagem escolar; a avaliação de desempenho em teste de inteligência e viso-motores; a análise dos aspectos emocionais por meio de testes e ses-sões lúdicas, entrevistas com a escola ou outra instituição em que o sujeito faça parte; etc. Esses momentos podem ser estruturados dentro de uma sequência diagnóstica estabelecida.Existem diferentes modelos de sequência diagnóstica, sendo que nos deteremos no modelo desenvolvido por Weiss (1992). As etapas que compõem o modelo e o caracterizam:
1) Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.):
Visa a compreensão da queixa nas dimensões da escola e da família, a captação das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a expectativa em relação ao psicopedagogo, a aceitação e o engajamento do paciente e de seus pais no processo diagnóstico e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico. Nesta entrevista, pode-se reunir os pais e a criança. É importante que nessa entrevista sejam colhidos dados relevantes para a organização de um sistema consistente de hipóteses que servirá de guia para a investigação na próxima sessão.
2) Entrevista de anamnese;
É uma entrevista, com foco mais específico, considerada como um dos pontos cruciais de um bom diagnóstico, visando colher dados significativos sobre a história do sujeito na família, integrando passado, presente e projeções para o futuro, permi-tindo perceber a inserção deste na sua família e a influência das gerações passadas neste núcleo e no próprio.
Na anamnese, são levantados dados das primeiras aprendizagens, evolução geral do sujeito, história clínica, história da família nuclear, história das famílias ma-terna e paterna e história escolar. O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade “... para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à apren-dizagem” (Weiss, 1992, p. 62).
A história vital nos permitirá “... detectar o grau de individualização que a cri-ança tem com relação à mãe e a conservação de sua história nela” (PAÍN, 1992, p. 42). É importante iniciar a entrevista falando sobre a gravidez, pré-natal, concepção. “A história do paciente tem início no momento da concepção e vêm reforçar a impor-tância desses momentos na vida do indivíduo e, de algum modo, nos aspectos incons-cientes de aprendizagem” (WEISS, 1992, p. 64).
Algumas circunstâncias do parto como falta de dilatação, circular de cordão, emprego de fórceps, adiamento de intervenção de cesárea, “costuma ser causa da destruição de células nervosas que não se reproduzem e também de posteriores
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transtornos, especialmente no nível de adequação perceptivo-motriz” (PAÍN, 1992, p. 43).
É interessante perguntar se foi uma gravidez desejada ou não, se foi aceito pela família ou rejeitado. Estes pontos poderão determinar aspectos afetivos dos pais em relação ao filho. Posteriormente é importante saber sobre as primeiras aprendiza-gens não escolares ou informais, tais como: como aprendeu a usar a mamadeira, o copo, a colher, como e quando aprendeu a engatinhar, a andar, a andar de velocípede, a controlar os esfíncteres, etc. A intenção é descobrir “em que medida a família pos-sibilita o desenvolvimento cognitivo da criança – facilitando a construção de esquemas e deixando desenvolver o equilíbrio entre assimilação e acomodação...” (WEISS, 1992, p. 66).
É interessante saber sobre a evolução geral da criança, como ocorreram seus controles, aquisição de hábitos, aquisição da fala, alimentação, sono etc., se ocorre-ram na faixa normal de desenvolvimento ou se houve defasagens. Se a mãe não per-mite que a criança faça as coisas por si só, não permite também que haja o equilíbrio entre assimilação e acomodação. Alguns pais retardam este desenvolvimento pri-vando a criança de, por exemplo, comer sozinha para não se lambuzar, tirar as fraldas para não se sujar e não urinar na casa, é o chamado de hipoassimilação (PAÍN, 1992), ou seja, os esquemas de objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de coordená-los.
Por outro lado, há casos de internalização prematura dos esquemas, é o cha-mado de hiperassimilação (PAÍN, 1992), pais que forçam a criança a fazer determina-das coisas das quais ela ainda não está preparada para assimilar, pois seu organismo ainda está imaturo, o que acaba influenciando negativamente o pensamento da cri-ança. É interessante saber se as aquisições foram feitas pela criança no momento esperado ou se foram retardadas ou precoces.
Saber sobre a história clínica, quais doenças, como foram tratadas, suas con-sequências, diferentes laudos, sequelas também é de grande relevância, bem como a história escolar, quando começou a frequentar a escola, sua adaptação, primeiro dia de aula, possíveis rejeições, entusiasmo, porque escolheram aquela escola, trocas de escola, enfim, os aspetos positivos e negativos e as consequências na aprendizagem.
Todas estas informações essenciais da anamnese devem ser registradas para que se possa fazer um bom diagnóstico.
3) Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças);
São fundamentais para a compreensão dos processos cognitivos, afetivos e sociais, e sua relação com o modelo de aprendizagem do sujeito. A atividade lúdica fornece informações sobre os esquemas do sujeito. Winicott expressa assim sua opinião entre o brincar e a autodescoberta: “é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu” (1975, p. 80).
Neste tipo de sessão, observa-se a conduta do sujeito como um todo, colo-cando também um foco sobre o nível pedagógico, contudo deve-se ter como postulado que sempre estarão implicados o seu funcionamento cognitivo e suas emoções ligadas ao significado dos conteúdos e ações. Para Paín (1992), podemos avaliar através do desenho, a capacidade do pensamento para construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar a emoção.
4) Provas e testes quando necessário :
As provas e testes podem ser usadas, se necessário, para especificar o nível pedagógico, estrutura cognitiva e/ou emocional do sujeito. O uso de provas e testes não é indispensável em um diagnóstico psicopedagógico, representa um recurso a mais a ser utilizado quando necessário. É uma complementação que funciona com situações estimuladoras que provocam reações variadas.
Existem diversos testes e provas que podem ser utilizados num diagnóstico, como as provas de inteligência (WISC é o mais conhecido, porém de uso exclusivo de psicólogos, CIA, RAVEN); provas de nível de pensamento (Piaget); avaliação do nível pedagógico (atividades com base no nível de escolaridade, E.O.C.A.); avaliação perceptomotora (Teste de Bender, que tem por objetivo avaliar o grau de maturidade visomotora do sujeito); testes projetivos (CAT, TAT, Desenho da família; Desenho da figura humana; Casa, árvore e pessoa - HTP, também são de uso de psicólogos); testes psicomotores e jogos psicopedagógicos.
“As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aqui-sição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança” (WEISS, 1992, p. 106).
5) Síntese diagnóstica – Prognóstico;
“Uma vez recolhida toda a informação (...) é necessário avaliar o peso de cada fator na ocorrência do transtorno da aprendizagem” (PAÍN, 1992, p. 69). A síntese diagnóstica é o momento em que é preciso formular uma única hipótese a partir da análise de todos os dados colhidos no diagnóstico e suas relações de implicância, que por sua vez aponta um prognóstico e uma indicação. Essa etapa é muito importante para que a entrevista de devolução seja consciente e eficaz.
É a resposta mais direta à questão levantada na queixa. Faz-se uma síntese de todas as informações levantadas nas diferentes áreas. É uma visão condicional baseada no que poderá acontecer a partir das recomendações e indicações.
6) Entrevista de Devolução e Encaminhamento.
É o momento que marca o encerramento do processo diagnóstico. “... Talvez o momento mais importante desta aprendizagem seja a entrevista dedicada à devolução do diagnóstico, entrevista que se realiza primeiramente com o sujeito e depois com os pais” (PAÍN, 1992, p. 72). É um encontro entre sujeito, psicopedagogo e família, vi-sando relatar os resultados do diagnóstico, analisando todos os aspectos da situação apresentados, seguindo de uma síntese integradora e um encaminhamento. É uma etapa do diagnóstico muito esperada pela família e pelo sujeito e que deve ser bem conduzida de forma que haja participação de todos, procurando eliminar as dúvidas, afastando rótulos e fantasmas que geralmente estão presentes em um processo diagnóstico. Não é suficiente apresentar apenas as conclusões. É necessário aproveitar esse espaço para que os pais assumam o problema em todas as suas dimensões.
Weiss (1992) orienta organizar os dados sobre o paciente em três áreas: pedagógica, cognitiva e afetivo-social, e posteriormente rearrumar a sequência dos assuntos a serem abordados, a que ponto dará mais ênfase. É necessário haver um roteiro para que o psicopedagogo não se perca e os pais não fiquem confusos. Tudo deve ser feito com muito afeto e seriedade, passando segurança. Os pais, assim, muitas vezes acabam revelando algo neste momento que surpreende e acaba complementando o diagnóstico.
É importante que se toque inicialmente nos aspectos mais positivos do paciente para que o mesmo se sinta valorizado. Muitas vezes a criança já se encontra com sua autoestima tão baixa que as revelações apenas dos aspectos negativos acabam per-turbando-o ainda mais, o que acaba por inviabilizar a possibilidade para novas conquistas. Depois, deverão ser mencionados os pontos causadores dos problemas de aprendizagem.
Posterior a esta conduta deverá ser mencionada as recomendações como troca de escola ou de turma, amenizar a superproteção dos pais, estimular a leitura em casa etc.; e as indicações que são os atendimentos que se julgue necessário como fono-audiólogo, psicólogo, neurologista etc.
Observa-se o papel do professor, com uma visão psicopedagógica, ser um investigador dos processos de aprendizagem de seus alunos, evitando que o problema de aprendizagem leve a um fracasso escolar.
[...]. Não pode haver construção do saber, se não se joga com o conhecimento. Ao falar de jogo, não estou fazendo referências a um ato, nem a um produto, mas a um processo. Estou me referindo a esse lugar e tempo que Winnicott chama espaço transicional, de confiança, de criatividade. Transicional entre o crer e o não crer, entre o dentro e o fora. O espaço de aprendizagem "não pode ser situado na realidade psíquica interior do indivíduo, porque não é um sonho pessoal: além disso forma parte da realidade compartilhada. Tampouco se pode pensá-la (a área da experiência cul-tural), unicamente em função de relações exteriores, porque acha-se dominada pelo sonho. Nesta entram ... o jogo e o sentido do humor. Nesta área todo bom intelecto está em seu elemento de prosperar. (Fernandez,1991 p.165)
A citação acima preocupa-se com o principal objeto de intervenção, que é o próprio jogo, na qual para o psicopedagogo interessa os procedimentos, ou seja, os meios, que o jogador utiliza e constrói. Possibilita uma aproximação ao mundo mental da criança que sofre de desatenção facilitando-a suas ações no decorrer de suas ações ou jogadas. O jogo possibilita que a dimensão simbólica da criança se mani-feste em fazer o que pode ser partilhado com o outro, resignificado e transformado.
Segundo Piaget (1976), uma ação não é necessariamente lúdica ou adaptativa na sua origem. Qualquer ação pode ser transformada em jogo este é movido pelo desejo de experiência, prazer e poder. Em crianças com TDA do tipo desatento deve-se observar como a criança planeja a jogada, se ela fica no mundo da lua, como se diz popularmente é necessário traze-la de volta para a jogada seguinte.
Através de jogos, é possível trabalhar a afetividade e o social, desenvolvendo assim a criatividade na criança que sofre desse distúrbio. O TDA é considerado o distúrbio infantil mais comum e é tido como a principal causa de fracasso escolar, utiliza-se o jogo, com a finalidade de facilitar os exercícios escolares. Para Chateu o jogo é apenas um substituto do trabalho, é por meio deste que a escola deve desem-bocar na vida, o jogo na escola deve ser visto como um encaminhamento ao trabalho, uma ponte entre infância e a vida adulta.
Para Piaget (1976), o jogo na escola tem importância quando revestido de seu significado funcional, ou seja, é preciso, uma coerência entre assimilação e acomoda-ção. Ambos os autores correlacionam o jogo para uma utilização em contextos esco-lares como situações psicopedagógicas.
Para Alicia Fernandes (2001) não pode haver construção do saber, se não se joga com o conhecimento. O jogo é um processo que ocorre no espaço transicional, de confiança, de criatividade. É o único onde se pode aprender. Através do jogo a criança expressa agressão, adquire experiência, controla ansiedade, estabelece con-tatos sociais como integração da personalidade e prazer.
Denomina-se atuação psicopedagógica as estratégias que visam à recupera-ção, por parte das crianças, de conteúdos escolares avaliados como deficitários pro-cedimentos de orientação de estudos e atividades como brincadeiras, jogos de regras e dramatizações realizadas na escola e fora dela, com o objetivo de promover a plena expressão dos afetos e o desenvolvimento da personalidade de crianças com e sem dificuldades de aprendizagem.
Dentro do que é denominado psicopedagogia, pretendemos, pois, distinguir pelo menos três conotações, diferentes: como uma prática; como um campo de inves-tigação do ato de aprender; como um saber científico.
Como prática consideraremos as seguintes incumbências:6
- Assessorar sobre a caracterização do processo de aprendizagem, suas per-turbações e, ou anomalias, para favorecer as condições ótimas do mesmo no ser hu-mano, ao largo de todas as etapas de desenvolvimento, tanto individual como grupal-mente no âmbito da educação e da saúde mental.
- Realizar ações que possibilitem a detecção das perturbações e, ou anomalias no processo de aprendizagem.
- Participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, com o fim de favorecer os processos de integração e troca.
- Orientar a respeito das adequações metodológicas relacionadas com as ca-racterísticas bio-psico-sociocultural dos indivíduos e grupos.
- Realizar processos de orientação vocacional -ocupacional nas modalidades individual e grupal.
- Realizar diagnóstico dos aspectos preservados e das perturbações, compro-metidos com o processo de aprendizagem, para efetuar prognósticos de evolução.
- Explorar as características psico-evolutivas do sujeito em situação de apren-dizagem.
- Implementar sobre a base do diagnóstico as estratégias específicas de trata-mento, orientação e derivação, destinadas a desenvolver processos harmônicos de aprendizagens.
- Participar de equipes interdisciplinares responsáveis pela elaboração, dire-ção, execução e avaliação de planos, programas e projetos nas áreas de educação e saúde mental.
O PISICOPEDAGOGO E SEU OLHAR SOBRE CRITÉRIOS DE APRENDIZAGEM
Diante disso nota-se que cada criança tem o processo de desenvolvimento diferente, algumas aprendem com maior facilidade enquanto outras aprendem mais de-vagar.
E nesse momento que é de fundamental importância que o professor analise individualmente cada criança para poder adequar os conteúdos conforme a necessi-dade de cada um, quando o professor sente a dificuldade de entender essas diferen-ças o aprendizado do aluno cai muito, dessa forma o psicopedagogo pode intervir de maneira a ajudar tanto o educando quanto o educador.
Nota-se que em alguns casos, as estratégias de ensino não estão de acordo com a realidade do aluno, pois a prática do professor em sala de aula é decisiva no processo de desenvolvimento dos seus alunos, esse talvez seja o momento do pro-fessor rever a metodologia utilizada para ensinar seu aluno.
Através de outros métodos ou atividades ele poderá detectar quem realmente está com dificuldade de aprendizagem, evitando os rótulos muitas vezes colocados erroneamente, que prejudicam a criança trazendo-lhe várias consequências, como a baixa-estima e até mesmo o abandono escolar.
As mudanças de estratégias de ensino podem contribuir para que todos apren-dam de maneira correta e eficaz, fazendo com que haja menos evasão escolar e mais probabilidade de o aluno permanecer dentro da sala de aula.
Portanto, ensinar e aprender são processos interligados. Não podemos pensar em um, sem estar em relação ao outro. Ainda segundo Fernandez (2001, p.29), “entre o ensinante e o aprendente, abre-se um campo de diferenças onde se situa o prazer de aprender”. Ensinantes são os pais, os irmãos, os tios, os avós e demais integrantes da família, como também, os professores e companheiros da escola.
De acordo com Sena, Conceição e Vieira (2004), o processo de ressignificação da prática pedagógica se constrói por meio de um processo que se efetiva pela refle-xão critico-reflexiva do professor sobre seu próprio trabalho, isto é, a partir da base do contexto educativo real, nas necessidades reais dos sujeitos, nos problemas e dilemas relativos ao ensino e à aprendizagem.
O professor não apenas transmite os conhecimentos ou faz perguntas, mas também ouve o aluno, deve dar-lhe atenção e cuidar para que ele aprenda a expres-sar-se, a expor suas opiniões.
Segundo Firmino (2001) as evidências sugerem que um grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional diferenciada. Neste sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino e aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa.
o PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NO PLANEJAMENTO ESCOLAR.
É importante que fique claro que, ao avaliar, o professor não deve prestar aten-ção somente no aluno e sim na aprendizagem como um todo, portanto não precisa necessariamente fazer uso somente de testes e provas. Mas das atividades de sala de aula como, por exemplo: trabalhos em grupo, exercícios, atividades extraclasse e a observação do professor, podem revelar muito sobre a aprendizagem dos educan-dos.
Neste contexto entra o psicopedagogo com seu papel voltado ao planejamento escolar que é refletir sobre as ações pedagógicas e suas interferências no processo
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de aprendizagem do aluno, bem como também no processo de ensino do qual o pro-fessor utiliza em suas aulas.
É de suma importância para o bom andamento de ambas as partes que se tenha o cuidado para que uma reunião não se resuma à execução de situações ditas pedagógicas e pautadas em reuniões anteriores, as mesmas devem traçar uma pro-posta de intervenção capaz de contribuir para a superação dos problemas de apren-dizagem dos alunos.
Dessa forma, defende-se a importância do Psicopedagogo Institucional, como um profissional qualificado, que se baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, no sentido de não apenas identificar possíveis perturbações no processo de aprendizagem, mas para promover orientações didático-metodológicas no espaço escolar de acordo com as características dos indivíduos e grupos.
O objetivo principal da Psicopedagogia transformou-se em um campo de am-plos conhecimentos, com o objetivo principal de analisar o processo de aprendizagem, sua evolução normal e patológica, bem como as interferências da família, escola e sociedade neste processo.
As dificuldades de aprendizagem passaram a ser compreendidas de acordo com a interação de diversos fatores escolares e familiares. Nesse sentido, a Psicope-dagogia colabora com a escola, haja vista que é no âmbito desta instituição que a aprendizagem socialmente reconhecida acontece. O psicopedagogo atua no cotidiano pedagógico, mas, agora, já não procura por causas e soluções em si mesma.
Se o psicopedagogo exercer uma atuação de intermediador durante as reuni-ões escolares, transmitindo o pensamento do sujeito como um todo inserido na famí-lia, escola, trabalho, comunidade e sociedade poderá promover a inclusão, equipara-ção de oportunidades e a transformação de modelos tradicionais de aprendizagem e clássicos de atendimento na área de saúde (JARDIM, 2006).
É preciso analisar e atuar com visão crítica e reflexiva sobre as questões culturais, políticas, da formação profissional e pessoal, dos envolvidos com o problema. A atuação do psicopedagogo não engloba somente seu espaço físico de atuação, mas também sua maneira de pensar a Psicopedagogia e seu conhecimento a respeito da área.
A Psicopedagogia Educacional pode assumir tanto um caráter preventivo bem como assistencial. Na função preventiva, segundo Bossa (2000) cabe ao psicopeda-gogo perceber eventuais perturbações no processo de aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orienta-ções metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indiví-duos do grupo, realizando processos de orientação.
Já no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educa-cionais, fazendo com que professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria "ensinagem". Participando da rotina escolar, o psicopeda-gogo interage com a comunidade escolar, participando das reuniões de pais - escla-recendo o desenvolvimento dos filhos; dos conselhos de classe - avaliando o processo didático metodológico; acompanhando a relação professor-aluno - sugerindo ativida-des ou oferecendo apoio emocional e, finalmente acompanhando o desenvolvimento do educando e do educador no complexo processo de aprendizagem que estão com-partilhando.
Onde mediar é intervir para promover mudanças e o aprender é o resultado da interação entre os educadores e seus educandos bem como ao meio ambiente do qual estão inseridos, sendo assim nota-se que o professor é coautor do processo de aprendizagem dos alunos e por isso, o conhecimento é construído e reconstruído con-tinuamente.
O conhecimento como cooperação, criatividade e criticidade estimula a liber-dade e a coragem para transformar, sendo que o aprendiz se torna no sujeito ator como protagonista da sua aprendizagem. O professor exerce a sua habilidade de me-diador das construções de aprendizagem.
A participação do professor, por inteiro, (corpo, organismo, inteligência e de-sejo) nessa relação, na sala de aula, no processo ensino-aprendizagem de-manda a participação dos alunos também por inteiro. O organismo, transver-salizado pela inteligência e o desejo, irá se mostrando em um corpo, e é deste modo que intervém na aprendizagem, já corporizado. (FERNÁNDEZ, 1990).
É fundamental a participação do professor, por inteiro, nessa relação, na sala de aula, no processo ensino-aprendizagem demanda a participação dos alunos tam-bém por inteiro. O organismo, transversalizado pela inteligência e o desejo, irá se
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mostrando em um corpo, e é deste modo que intervém na aprendizagem, já corpori-zado. (FERNÁNDEZ, 1990, p.62).
A ideia de que as soluções psicopedagógicos de muitos problemas da educa-ção escolar são novas, a Psicopedagogia como uma profissão relativamente recente tem buscado, ao longo dos anos, uma definição da sua formação, atuação e identi-dade onde alguns profissionais defendem a regulamentação da profissão do psicope-dagogo, num processo que teve início em 1988 e se encontra em andamento na Câ-mara dos Deputados Federais.
Para esses autores, o psicopedagogo seria o profissional capaz de uma re-forma no sistema educacional brasileiro, tendo em vista que sua formação e prática baseiam-se em conhecimentos multidisciplinares, que permitem uma análise e inter-venção no projeto educacional brasileiro, a partir de uma visão integral do aluno.
O fracasso escolar tem sido ao longo dos anos, um fenômeno multideterminado e o maior responsável pelas dificuldades de acesso e permanência dos alunos na escola (Fini, 1996; Carvalho, 1997; Brasil, 1997).
De acordo com Patto (1990), o fracasso escolar é um processo historicamente construído e sua análise revela diversas teorias e concepções que buscaram explicar e justificar o fracasso escolar e os problemas e/ou dificuldades de aprendizagem.
Quais fossem essas teorias, as compreensões dos problemas educacionais centravam-se nos aspectos sócio cognitivos e afetivos do aluno e da sua família, de-terminando uma forma de análise do processo de ensino - aprendizagem que excluía elementos fundamentais deste processo, tais como: a escola e os seus professores (Machado, 1997).
Visando o profissional, o psicopedagogo pode auxiliar os alunos a lidarem com suas dificuldades circunstanciais de aprendizagem, a compreenderem o processo es-colar e a descobrirem (ou redescobrirem) seus potenciais.
Além disso, este profissional pode oferecer a estes alunos a possibilidade de resgatar a própria autoestima e a motivação para a aprendizagem, bem como ajudá-los a acreditar que através de seu próprio esforço e capacidade podem aprender e se desenvolver com prazer.
O trabalho com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem constitui uma dentre as várias razões que movem pedagogos, psicólogos e outros profissionais que trabalham com crianças a aprofundarem seus conhecimentos sobre a função, a NECESSIDADE as peculiaridades, a prática e o campo de atuação da intervenção psicopedagógico.
No Brasil, o trabalho psicopedagógico tem sido influenciado, sobretudo, pelas abordagens associacionistas, psicanalíticas e construtivistas (Sisto,1996). Contudo, permanecem, ainda, as discussões acerca das definições da psicopedagogia em seus aspectos teóricos e práticos.
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